A Consanguinidade
Por Manuel João Múrias:
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A necessidade da consciência que, em Ornitófilia, se deve ter acerca da
consanguinidade levaram-me a escrever este artigo. Embora não enuncie as Tabela de Felch.
Limito-me a escrever um pequeno artigo de opinião segundo algumas leituras
e prática sobre criação de aves.
Uma linhagem com bons resultados é inevitável que terá alguns elementos
consanguíneos. Há que perceber essa consanguinidade, podemos e devemos ter
todas as aves registadas em bases de dados ou apontamentos para concluirmos os
resultados a obter.
É como reger uma orquestra, primeiro afinamos os instrumentos, depois
conjugamo-los e aprimoramos até sair a peça final de forma superior. É claro
que a mãe natureza é a maestrina e como ela não haverá espaço para
desafinações.
Daí o maior cuidado na junção de parceiros e possíveis resultados. Não
vamos estragar anos de desafios apenas porque acasalamos aves fenotipicamente
exuberantes mas com historiais de grande consanguinidade. Os resultados
tenderão para o desastroso. Apelo para a consciencialização de todos os
criadores na melhoria dos seus exemplares, sem correr riscos desnecessários que
traduzem-se em anos de retrocesso.
Significado de linhagem:
Quando me refiro a linhagem, quero com isso dizer que, são animais, neste
caso aves, provenientes de acasalamentos de exemplares com grandes qualidades
quanto ao standard existindo na sua obtenção uma selecção por consanguinidade.
Essa consanguinidade está presente em pequena ou grande escala e tem por
objectivo manter as suas qualidades enquanto raça. Assim apresento algumas
técnicas para selecção e formação de linhagens.
Há quatro tipos de acasalamentos em consanguinidade:
- In-breeding (na linhagem)
- Line-breeding (entre linhagens)
- Out-breeding (fora da linhagem)
- Out-cross (independente de linhagens, sem
nenhum parentesco)
Estes cruzamentos foram e são também utilizados em ornitófilia, nos
acasalamentos para preservar raças e apurá-las. São formas de tentar-se
aproximar do standard, ou mesmo de alterá-lo, inovando.
Tirando o cruzamento denominado de Out-cross (independente
de linhagens, sem nenhum parentesco) em que os progenitores não
têm qualquer relação consanguínea entre eles. Por vezes resultantes de
cruzamentos entre raças diferentes na intenção de melhorar, ou preservar
pormenores do indivíduo/raça em alvo.
Dá-se o caso também de miscigenação com subespécies para aumentar a
robustez do exemplar que vai servir na construção da futura cepa fortalecendo
futuros cruzamentos em consanguinidade.
Ao cingirmo-nos a este tipo de acasalamentos, a cepa ou plantel, tende a
divergir, perdendo-se rapidamente o controlo na evolução de bons exemplares.
São necessários futuros acasalamentos onde haja consanguinidade para que a
linha seja bem orientada. Há necessidade de fixar pormenores de standard para a
obtenção de bons indivíduos.
Dependendo do tipo de acasalamento em consanguinidade que se pretenda, esta
mesma consanguinidade poderá ser mais próxima ou mais afastada.
Vejamos:
Se o propósito é salvar uma raça da extinção poder-se-á utilizar o
acasalamento em in-breeding.
O que é que acontece neste tipo de junção? Acontece que se vai trabalhar
com acasalamentos muito próximos tipo pai X filho, mãe X filho, irmão X irmão
ou meio-irmão, ou ainda meio-irmão com meio-irmão, Tio X sobrinha, tia X
sobrinhos ou meio irmãos.
In-breeding (entre a linhagem) só como último recurso
pois poderá acontecer todos os exemplares nascerem apenas com os defeitos dos
pais que hipoteticamente já possuam sinais de consanguinidade. É necessário
conhecer bem a árvore genealógica dos indivíduos a acasalar!
Existem outros problemas com a junção repetida em in-breeding como,
taras comportamentais que perdurarão mesmo com o evoluir da raça, por vezes
ocultas durante gerações e gerações.
Estes problemas de comportamento podem ser: agressividade para com as
outras aves mesmo as da sua raça, agressividade entre o casal, hábito de comer
os ovos ou as crias, recusa de acasalamento. Fisicamente e em geral, mais
pequenos em estatura, a plumagem também medíocre, fazem pequenas posturas,
criam mal os filhos muitas vezes por “negligência”, possibilidade de cegueira,
não chegarem a nascer morrendo quando embriões, canibalismo.
O in-breeding poderá ser benéfico para salvar alguma raça
em extinção, ou melhorar o plantel, mas não deverá ser feita de forma cíclica.
Sempre com compensações de cruzamento com raças próximas ou miscigenação. É um
trabalho que deverá ser feito com o máximo de cuidado e com conhecimentos
profundos sobre a matéria.
O Line-breeding (entre linhagens) por outro
lado vai usar uma consanguinidade menos intensa embora derivada parcialmente
do in-breeding. Os cruzamentos serão entre tios X primos ou avó X
neto (embora nem todos os criadores sejam desta última opinião). Desta forma e
desde que os cruzamentos sejam pensados de forma a não coincidirem os mesmos
defeitos nas proles, há uma boa probabilidade em que nasçam indivíduos mais
perto do ideal do criador. Exemplificando por hipóteses: O tio que tem o
defeito de ter a cabeça pequena apesar de possuir um bom porte, se for
acasalado com uma sobrinha que igualmente tenha sido filha de um pai com o
mesmo defeito é mais provável que tenha descendência com a cabeça pequena e sem
o porte do progenitor.
No caso de o tio que tem o defeito de ter a cabeça pequena, apesar das
outras qualidades, for acasalado com a sobrinha que tenha os pais sem este
problema aí a probabilidade de proles com a cabeça pequena seja menor e que
seja realçado qualquer outro pormenor positivo como uma boa cabeça e manter um
bom porte.
Reparando nas qualidades dos ancestrais ao cruzar o casal e se a
consanguinidade não for executada de uma forma sistemática. Tendo atenção à
repetição na árvore genealógica de cruzamentos line-breeding ou
mesmo mais longínquos de in-breeding com bons resultados.
Podem ter-se exemplares de muito boa qualidade.
Se ao fruto destes últimos acasalamentos em line-breeding for
introduzida uma nova qualidade no acasalamento em que o nível de
consanguinidade é bastante diluído, ou ausente, como no out-cross (independente
de linhagens, sem nenhum parentesco). Não haverá certeza quanto à
fixação das características desejadas mas se elas se evidenciarem, teremos bons
exemplares e com portação de caracteres favoráveis, tendencialmente robustos,
para a continuação de um bom trabalho na fixação das características exigidas
pelo Standard.
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